El blog de los 3 amigos

sexta-feira, novembro 02, 2007

Terapia da tristeza

É da infância a lembrança do primeiro defunto. Daí por diante, a imagem da tia distante, ali deitada inerte, nariz descomunal, face de leite, aqueceria os pesadelos febris. Nunca mais voltaria a um cemitério, que mamãe não era doida de querer sofrer tanto remorço.

Morte. Quanto peso pode haver numa só palavra! Desde sempre fomos acostumados a temer a morte, a ignorá-la, a postergar qualquer sentimento que se aproxime da necessidade de compreensão do real significado da morrrte. E seguimos alimentando o ciclo... Meu filho não viu e, portanto, não chorou o pai morto.

- "Seja forte!"
- "Dê tempo ao tempo!"

Que força é essa que nos quer afastados da nossa tristeza, que não nos permite o luto, a dor? E o que pode o tempo se não nos prepararmos para entender o que se segue à perda de um ente querido?

Mais uma vez recorro a um livrinho, pequenininho, presente da ClaraBeauty, que me chegou num momento de completa inapetência pela vida. Demorei para ler, mas quando o fiz senti que alguém leu meus sentimentos e os traduziu justamente naquelas páginas e ilustrações desconexas, e tão espelho do meu momento único.

Em Terapia da tristeza, Karen Katafiasz sugere o oposto dos "pêsames". Para ela, o caminho da superação da perda de quem se ama não existe sem a expressão da dor. De forma singela, indica etapas para o que considera uma "recuperação" do sentido da vida. Fala de "cura", da necessidade de dar curso às alegrias perdidas com o outro, de "superação". Nas poucas páginas, apenas 35 citações, nos leva a crer que ali há alguém que entende que a minha dor, a sua dor, que cada dor tem tamanho próprio... Choro agora... não são as mesmas lágrimas da primeira vez, claro, mas são as mesmas lágrimas temperadas pelos dias que não vivi, pelas alegrias não compartilhadas, por um futuro que não chegou. Certezas: não há no mundo quem possa mensurar a minha dor, a sua dor, a dor de cada um. Não há relógio ou calendário capazes de estabelecer prazos. O que de melhor ficou supera a tristeza de agora.