CARTA ABERTA AOS AMIGOS E A MEIO MUNDO



Caríssimos

Escrevo-lhes estas mal traçadas linhas enquanto deslizo a indefectível Bic preta, minha preferida, pelo caderninho de anotações. Devo-lhes explicações. Dar-lhes-ei uma a uma.
Era noite de domingo quando recebi a ligação da amiga. Havia chegado de viagem. Cansada de tanto ser feliz! A costelinha de porco chiando na brasa, a cerveja gelada, a molecada querendo agradar, assando castanhas que eram quebradas para serem consumidas na hora, as mãos sujas de carvão, o forró do alpendre. Tudo ainda tão vivo na lembrança. Juro isso ainda existe! Mas, era domingo à noite, e como já superei o Show da Vida, bastou o telefone tocar pra eu me animar. A convocação veio na bucha:

- Vou lhe fazer um convite! Você não pode recusar!

Desassombrada, fui logo tascando:

- Já topei! Vamos para onde?

Foi então que o Blogger entrou em cena.

Surpresa, um tanto desapontada, ainda tentei contra-argumentar. Mas, como tenho dificuldade em dizer não pra quem amo, pensei:

"Vou enrolando!"

Marquei um encontro em casa, almoçaríamos e ela me ensinaria a entrar na coisa.
Santa inocência!

É por isso que eu não gosto de computador. Ô coisa impertinente! Ô negócio incisivo! Eu mal disse que topava e a minha cara já tava lá, pra meio mundo ver. Sabem onde me deram a notícia? Lá no programa do Paulo Oliveira, a produtora dele já tinha visto. VALHA-ME DEUS! O que é pior, o meu segredinho, meu e da Adísia foi pro beleléu, digo pra famigerada internet! O mundo que tudo sabe e tudo vigia. Um tanto promíscuo, não?
Vamos às explicações. Na prática, os meus problemas com a máquina: leve demais, arrogante demais, emparedada demais. O tempo todo a me interromper com grifos vermelhos e verdes.

- O que foi desta vez?

- Verifique problemas com a pontuação, verifique problemas com o espaço, você escreveu mais de 60 palavras num parágrafo, não se escreve assim, escreve assado.

E o pior é que, na maioria das vezes, as opções ortográficas que ele me dá são ridículas. Ridículas! Aliás, existe algum programa de computador que conheça a nossa língua? Se você esquece uma letrinha, uma letrinha sequer no endereço, ele não manda a sua correspondência. Pois lá em Reriutaba, o Tatite, viu? (Ele acabou de grifar duas palavras Reriutaba e Tatite), Reriutaba existe no mapa e o Tatite ainda está vivo. Pois bem, lá em Reriutaba, o Tatite nunca deixou de entregar uma carta, podia faltar era o endereço todinho que ele achava o dono.
Problema número dois. A Fisiologia explica: Eu falo com o corpo. O mecanismo que dispara a minha fala são os movimentos, especialmente dos braços e das mãos. Revelo aqui mais um segredinho. Pra calar a minha boca, basta segurar minhas mãos. É mais ou menos o que o teclado do computador faz. Aquela coisa apertadinha, movimento mínimo, miúdo. DETESTO!
Problema número três: computador pra mim é trabalho, trabalho! Nada de prazer. Não tenho o menor tesão pelo mundo virtual. É impessoal demais, distante demais, frio demais. Conversa com amigo, pra mim, é tête-à-tête, abraços, beijos, uns petiscos, uma cervejinha, boas gargalhadas. Se não dá pra ver, pra tocar, pelo menos ouvir o som da voz... ADORO, ADORO UM TELEFONE! Essa sim é a invenção do milênio. Minhas reverências a Graham Bell.
Ademais, ?mes amis?, eu caminho pela vida vivendo tudo o que passa na minha frente. O café tem que ser bem quentinho, forte e doce. Antes de qualquer coisa! Depois, se me permitem dizer assim, vou acionando meus blogs (acabou de grifar de novo, em vermelho, ele não reconhece a própria cria). Bem, como dizia, acordo e vou acionando meus blogs: com os filhos a caminho da escola, com as minhas parceiras, a Maria e a Neide. Com a Maria, as fofocas de Reriutaba. Com a Neide, falando da Maria. Com o porteiro, com o faxineiro. É só dar o mote: futebol, política, o assalto da noite passada. Converso com a minha cabeleireira, tudo. Grande amiga. Meto-me na vida da faxineira, compro briga com o bombeiro, com o marceneiro, aliás, ô raça ruim de trampo! Vocês conhecem algum que cumpre os prazos?

Quando eu freqüentava a 03 / Paupina-Pici no trajeto pra TV não faltava assunto, nem companheiro de viagem. E os bonecos? E a briga coletiva? Eu tomava logo partido que era pra ter direito a voz e voto, mas a voz do que voto, é claro.
Hoje, por exemplo, quando estacionava no Pajeú, o Sandro, pastorador e limpador dos carros estava numa conversa animada com a sua mulher, grávida de 7 meses. O Sandro é gente boa demais. Logo, me interessa.

- Tá fazendo o pré-natal? Tá gostando do atendimento? Quantos filhos? Pois faça tudo direitinho, que é pra não ter problema.

Recado dado, 15 minutinhos blogando.

Sigo. Os colegas me ligam, insistentemente. Uma pauta, uma consulta, um remédio, uma cirurgia, uma vaga na UTI. Não tô me queixando. Faço com prazer. Todo mundo precisa de ajuda.

O ascensorista me espera. É o Lidú. Ele tem um filho preso.

- Se meteu numa encrenca, mas é menino bom Dona Lena... Não sei por que ainda não soltaram ele.

- Um dia dá certo Lidú!

- Dá. (meio triste)

- O importante é que ele tá vivo, pra tentar de novo e dessa vez acertar. Se Deus quiser. Ruim é a gente tá morto, Lidú, os tapurus comendo a gente. Já pensou, Lidú, os tapurus no nariz sem a gente poder dar um peteleco, tuuuum? Eca! (risos)

No corredor:

- Osmar, querido, tava mesmo precisando falar com você. Amanhã estréia o novo site da Secretaria, atualize as informações sobre a dengue. Olha a responsabilidade!

Na ante-sala do gabinete do secretário:

- (cantarolando) Tua saia Bastiana termina muito cedo. Tua blusa Bastiana começa muito tarde.... Isto é lá roupa que se vista pra vir trabalhar Elba? Logo no gabinete do Secretário? Cadê aquele blazer branquinho que eu te dei? Cria juízo mulher!

- Madá, querida, bom dia! O Dodô chegou? Tu viu a roupa da Elba? Eu agüento???

Na minha sala:

- Bom dia, Josias! Tudo tranqüilo?

Na minha mesa dois copos d?água, uma xícara de café, os três jornais do dia, os recados devidamente anotados. E o bicho lá, olhando pra mim. Olhão quadrado, impassível.
Eu quero lá saber de senha!

- Josias, hoje eu tenho duas pautas. Abre dois arquivos com os nomes XXXXXXXX. E deixa logo aí, pra eu abrir direto, que eu não quero me aborrecer!

Isto me faz lembrar aquele filme Matrix. Qual dos dois comprimidos vocês acham que eu tomei? O vermelho ou o azul?

Um abraço!

Lena Ximenes....ou, como quer o computador: lemna, lenda, lenha, lenta, liam Ximenes. Escolham. Qualquer dia só de sacanagem eu vou fazer tudo o que ele mandar
pra ver como o texto fica.

P.S. Volta Zé! Não ligue não, pra o comentário do VT. Coisa de homem apaixonado. Comparado a você, eu não sei nem o que é uma baqueta.

P.S.2 Esse texto foi escrito à mão. Penosamente digitado por mim. O Josias tá de férias. Colado no blog pelo VT. Qualquer comentário liguem pra mim, eu estou sempre disponível.