Campanha e preconceito *

Desconforto. Essa a sensação que me vem ao ver circular pelas ruas de Fortaleza um adesivo onde aparece uma mão com apenas quatro dedos, entrecortada por um sinal de proibido. Se a intenção é dizer não ao candidato que sabidamente tem essa deficiência, convenhamos, há outras formas mais inteligentes de fazê-lo. Num país que caminha lentamente contra uma corrente de preconceituosos assumidos ou enrustidos, que engatinha na busca por igualdade de condições para deficientes, é, no mínimo, um deserviço à sociedade que prestam os que aderem à mensagem(?) do tal adesivo.

Diante disso é um alento ver decisões como a da juíza da 2ª Zona Eleitoral de Porto Alegre (RS) Ângela Maria Silveira, que determinou busca e apreensão dos adesivos que também circulam por lá. A decisão foi tomada a partir de ação movida pela coligação Frente Popular (PT-PCdoB), da qual faz parte o candidato do PT ao governo do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra. O motivo alegado é de que o material seria ofensivo ao presidente Lula, candidato à reeleição. Está certa a juíza. E mais certa seria uma decisão em nível nacional em que pudesse ser evidenciada a ofensa não somente ao candidato mas a todos que portem qualquer tipo de deficiência.

Aliás, distribuição de material com teor preconceituoso é munição freqüente disparada durante as campanhas eleitorais. Quase sempre apócrifos, panfletos circulam nos cruzamentos. Sem autor, textos maldosos enchem a caixa postal. Boatos são plantados. No Brasil dos "escândalos" os dias seguem reduzidos a páginas de folhetins de categoria Z. Será que merecemos tão pouco?

* Atualizado, com foto (Aaah um Azulzinho nessa hora!).

[ Escrevi depois ]
Só para constar: caso alguém, com deficiência ou não, quisesse passar pela calçada, estaria completamente impedido devido à falta de respeito da motorista em questão, também, pelas leis do trânsito. Para o pacote ser completo, só faltava um flagrante dela jogando o próprio lixo pela janela. E, por favor, não estou falando de preferência por esse ou aquele candidato: a questão é de falta de respeito pelo outro mesmo.