El blog de los 3 amigos

sexta-feira, outubro 29, 2004

Li e repasso pra você.

O tira e a tiara

"Segurança é questão demasiado complexa para ser
confiada apenas aos policiais. A violência, que
já se integrou ao cotidiano dos brasileiros,
que aterroriza e enluta as famílias, que pesa cada
vez mais no bolso do cidadão comum, no orçamento
das empresas e no erário público, requer explicações
- e estratégias de combate - muito mais elaboradas
do que as que foram apresentadas ao longo da
propaganda eleitoral.

O rádio e a TV mostraram sobejamente como um tema
da maior relevância pode ser banalizado pelo oportunismo
e a demagogia. Nas mãos de alguns políticos e de seus
marqueteiros, o medo virou matéria prima para induzir
o voto alienado.

O tom simplório que se emprestou à angustiante questão,
traduziu-se nessa pérola de leviandade, pronunciada
entre os dentes por uma jovem atriz: ''Chega de política,
eu quero é segurança''. Plasmou-se, aqui, a absurda
negação da inteligência. É como se pretendessem excluir
o debate político, a reflexão, para reduzir o problema
da segurança ao denominador comum da repressão policial.

O ''achado'' do marketing do medo me lembrou lições
repassadas por Bertolt Brecht em seu antológico
O analfabeto político. E me despertou um temor verdadeiro,
fundado na constatação de que não querem que os jovens
parem para pensar; querem que eles parem de pensar.
A mocinha do programa eleitoral, angustiada porque
já não pode namorar no portão, fez uma triste apologia
da alienação. Ela não precisa de um tira armado patrulhando
a rua; basta-lhe uma tiara para prender os cabelos...
e libertar sua mente - tão jovem, tão estreita
".

Artigo do jornalista Ítalo Gurgel publicado no jornal
O Povo (29/10/2004)